PRODUÇÃO DE PETRÓLEO CAIU 3,6%

A produção de petróleo em Angola caiu 3,6% no ano passado face a 2022, para 1,09 milhões de barris diários, de acordo com os dados da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG).

Lê-se no site do regulador petrolífero de Angola, o segundo maior produtor da África subsaariana, que assim confirma uma quebra de 4,1% face à estimativa para Dezembro, que “a produção de petróleo de Angola para o mês de Dezembro foi de 34.798.255 barris, correspondendo a uma média diária de 1.122.524 barris de petróleo, contra 1.169.451 previstos” oficialmente.

A divulgação dos dados de Dezembro de 2023 permite saber a produção do ano total, que, de acordo com a análise do gabinete de estudos económicos do Banco Fomento Angola (BFA), foi de cerca de 400 milhões de barris, o que resulta numa produção diária de 1,09 milhões, cerca de 3,6% abaixo da produção do ano anterior.

“O segundo semestre foi marcado por uma recuperação nos níveis de produção, sendo que no mês de Julho foram atingidos máximos desde agosto de 2022”, aponta o BFA, notando que o primeiro semestre ficou 5% abaixo da produção média da segunda metade de 2023.

De Julho a Dezembro, aponta-se ainda no comentário semanal sobre a economia angolana, enviado aos clientes, “a produção média foi de 1,12 mbd (milhões de barris diários), um aumento de 5% em relação ao 1 º semestre e 1,2% em relação ao mesmo período de 2022”, muito sustentado nas obras de manutenção do campo Dália em vários meses da primeira metade do ano.

Para este ano, o BFA antevê “que a tendência de aumento ligeiro se mantenha ao longo do ano de 2024, com uma produção média perto dos 1,11 mbd”, acima da previsão expressa no Orçamento Geral do Estado de 1,06 milhões de barris.

Em entrevista à Lusa na semana passada, o economista-chefe do BFA, José Miguel Cerdeira, tinha afirmado que o cenário para a economia petrolífera está “entre a estagnação e crescimento ligeiro”, apontando para uma expansão de 0,3 a 0,8%”, o que fará o total da economia crescer entre 1,9 a 2,4%.

Recorde-se que, por decisão do Presidente da República, João Lourenço, Angola deixou de pertencer a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) porque, de acordo com o Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, “Angola não ganha nada mantendo-se na organização”. Luanda rejeitou a quota atribuída pelo cartel, que previa uma redução, e que iria manter a meta de 1.180 mil barris por dia para 2024.

Diamantino Pedro de Azevedo justificou que “Angola sempre cumpriu com as suas obrigações e lutou o tempo todo para ver a OPEP modernizar-se, mas não observava por parte da organização interesse em ajudar os seus membros a obter vantagens”.

“Sentimos que neste momento Angola não ganha nada mantendo-se na organização e, em defesa dos seus interesses, decidiu sair”, explicou o Ministro.

“Quando vemos que estamos nas organizações e as nossas contribuições, as nossas ideias, não produzem qualquer efeito, o melhor é retirar. Entrámos em 2006 voluntariamente e decidimos sair agora também voluntariamente. E esta não é uma decisão irreflectida, intempestiva”, referiu o Ministro. A decisão foi imediatamente transformada em Decreto Presidencial assinado por João Lourenço.

No passado dia 30 de Novembro, o representante de Angola na OPEP, Estevão Pedro, revelou que Luanda rejeitou a quota atribuída pelo cartel, que previa uma redução, e que iria manter a meta de 1.180 mil barris por dia para 2024.

Essa de reduzir o único produto que sustenta o megalómano e luxuriante estilo de vida do MPLA, e do qual nada sobra para dar de comer aos 20 milhões de angolanos pobres, nunca será aceite.

Em declarações à Lusa, no final da 36ª reunião ministerial desta organização de 23 países, em que foram deliberadas as quotas de produção para os seus membros a partir de 1 de Janeiro de 2024, Estevão Pedro disse que “Angola não concorda” com a decisão.

“Nós já tínhamos apresentado os nossos dados, tendo em conta as capacidades do país, mas entretanto a decisão (da OPEP+) foi contra o montante que nós prevíamos”, sublinhou. A OPEP+ apresentou uma meta de 1.110 mil barris/dia, enquanto Angola quer produzir mais 70 mil barris, ou seja, 1.180 mil barris/dia.

Segundo o responsável, durante a reunião, Angola reafirmou a sua posição, mas ao contrário da unanimidade que tem sido habitual, a OPEP decidiu uma quota na qual Angola não se revia.

“Não nos revemos no 1.110 mil de barris/dia que é reflectido no documento [comunicado da OPEP] e continuamos com a nossa proposta que é de 1.180 mil barris/dia. Este montante é o que faremos o esforço de produzir durante o ano de 2024”, reforçou.

Estevão Pedro sublinhou que Angola tinha apresentado uma quota de acordo com o que pode e pretende produzir, indicando que foi formalizada uma carta expressando esta posição.

“O que faltou na reunião foi o critério habitualmente utilizado que é a unanimidade”, lamentou, considerando que a posição de Angola deveria “ser aceite”, cumprindo o princípio da soberania dos países membros.

O MPLA destacou que Angola sempre trabalhou no seio da OPEP para a estabilização do mercado, “que beneficia os produtores e os consumidores”, pelo que a organização deveria aceitar o que o país pede.

Os outros membros concordaram com os cortes, adiantou Estevão Pedro, justificando que os problemas dos países são diferentes.

“A pretensão de Angola é produzir em função das suas capacidades e a quota atribuída pela OPEP está muito aquém das possibilidades de Angola”, acrescentou, frisando que Angola tinha solicitado anteriormente uma quota superior e “tentou flexibilizar”, apresentando uma nova meta, mais baixa.

Os membros do cartel que representa a maioria da produção de petróleo mundial desentenderam-se sobre as metas de produção para os países africanos, entre os quais estão Angola e Nigéria.

Arábia Saudita e os seus aliados queriam impor quotas mais baixas para a produção petrolífera dos países africanos, numa tentativa de aumentar os preços para o próximo ano, mas contaram com a oposição destes países, nomeadamente Angola quer aumentar a produção e as receitas petrolíferas sem as quais não sabe… viver.

Entretanto, o Brasil vai juntar-se ao grupo de nações exportadoras de petróleo conhecido como OPEP+ a partir de Janeiro, anunciaram os ministros do Petróleo desta organização, assim transformando um rival num aliado do grupo.

De acordo com as agências internacionais de notícias, o acordo entre o Brasil e a OPEP e os seus aliados, conhecido como OPEP+, entrará em vigor a partir de Janeiro e surge numa altura em que a produção do Brasil e dos Estados Unidos impedia o cartel de controlar os preços mundiais de forma mais vigorosa.

A OPEP é, agora, constituída pela Argélia, Guiné Equatorial, Gabão, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela, a que se juntam mais dez aliados, entre os quais estão a Rússia, o México, o Azerbaijão e o Cazaquistão.

Folha 8 com Lusa

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